terça-feira, 29 de maio de 2007

Pintando Vênus

Submete com seus adornos
Minha tortura.

Seu sigilo contado aos poucos
As cristas dos quadris
aos pomos a vista.

Rezo suas curvas,
e inflexões impiedosas.
Eu, devoto esteta,
aturdido pela beleza
entregue as suas saliências.

Um expressionista libertino
pintando Vênus
Deslizo mil pincéis
pelo seu corpo e matiz

Lábios úmidos solfejam brechas
Alternam línguas lascivas
para o sumo depravado de nossa febre.

Vibram os ares,
essa massa túrgida de desejo
ao apelo irressistível de nossa polpa doce.

Você me oferenda,
Coxas tesas, suas cores
guirlandas ao meu redor
Absinto para o santo.

Cúmulo
Transcende a moldura
nossa arte lúbrica.



Primavera / aquarela, 29 x 42 cm
Série Estações

Quero Regras Quero Normas

O que se esconde agora entre seus gestos e palavras?

Eu vou decifrar esse olho rasgado
o sobe desce dessa sombrancelha
esse piscar descompassado
essa pupila que me leva não sei prá onde

Essa música rôuca que sai da sua bôca
que vibra meu tímpano de maneira estranha
... produz um quase transe

Procuro entender
esses meneios com a cabeça,
suas formas, a maneira como seus ossos se desalinham,
seus quadris que dançam

Quero entender você
essa bailarina lôuca
que rodopia minhas idéias
e me esconde de qualquer razão.

Essa expressão de mão que me caça
que prende meus detalhes
e não deixa possibilidade de fuga
Ataca meus cordeiros... o seu lobo.

...

Pétalas para você

Suaves nuvens
Se encontram no vento
Na flâmula de corpos
Que me convidam com olhos gentis

Então, nos espalhamos
Por nossa ávida superfície
Vertidos num céu reluzente de volúpia
Que nos espera

Agora, sou o vapor das expirações
Atento as línguas que circulam
Que circundam flores carnais

Sou o estalar molhado de nossas bôcas
Que exalam o buquê devasso
De nossos instintos

Sou o frêmir de nossas almas
Que contorce os corpos
De nossa frenética luxúria

Entregue aos olhares da moça
Que você devora as pétalas por entre as virilhas
Me afundo em você

Entregue as doçuras de teu viço
Estaremos na loucura de nossa seita
No alvoroço de nossos gêmidos
Até que não nos ouçamos mais.



Penteadeira 2 - aquarela, 32 x 44 cm

Abatido

Foi ali que acordei. Facho de sol na cara... franzia os olhos.
A ressaca me doía a cabeça. Você... me doía o coração.
Escorei na parede para levantar. Teu gosto de saliva...
ruminei... manhã pastoza etílica... Arrastei o corpo pesado.
Agonizei no vazio. Abatido recostei onde não haveria descanso.
Descanso? ... Descanso só haveria em você.

...

J.G.

"Sentindo o caminhar sonâmbulo de tuas mãos
e os passos embriagados de teus dedos,
sou um homem que se dissolve."

J. G. de Araujo Jorge

POEMAS DO AMOR ARDENTE - 1961

...

A Céu Aberto

Me provoca o efeito suave de bem formadas curvas oscilantes...
Luzes no seu curso... certeiro... toma os segundos e a realidade.
Brilham fachos... cabelos por onde o pescoço curva delicado aos ombros bem postados, servidos pelas anguladas clavículas.
Desfocado tudo que não ela... seu caminho agradece a escolha delicada de cada passo... levitante... o tecido pendula sobre o umbigo... eixo de cristas em helicoidais harmoniosos... de coxas que se enviesam com tornozelos... trançam... dança hipnótica. Nada mais é... além. Acentuam na minha direção... apontados os pontiagudos semicírculos... seus olhos... seu traçado... inescapável aos meus olhos.




Perspectiva 1 / stencil, 65 x 95 cm

Alucinações

Você acontecia...
densa... suave... Acontecia como algo que tinha que acontecer.
Acontecia... e isso era bom.
Acontecia num desassossego tranqüilo...
numa eterna vontade de ter aquilo que já tinhamos...
e isso era bom. Acontecia.
Entregue ao caos... agora aos cacos...
ao álcool... *a sêcas alucinações.
Entregue aos rumores no peito... as tocaias do tempo...
as noites intermináveis... ao sol que não aquece...
Estou mofando !


*
Ainda te vejo no sofá

Cabelos

Pernas

Como uma penitência

...


Ainda te vejo infindável

Cabelos

Pernas

Isso tudo me ultrapassa

...